O Lobo Solitário

O Lobo Solitário

terça-feira, 9 de abril de 2013

Independência política

Nasci no ano de 1971 e toda a minha vida vivi no concelho do Seixal até casar, zona de forte implantação fabril.
A minha mãe costureira e o meu pai encarregado de construção civil eram e continuam a ser, pessoas de hábitos humildes trazidos da província alentejana, lembro-me perfeitamente das barracas de madeira que o meu pai construiu para guardar o carro e para criar coelhos, galinhas, patos, o peru para o Natal e onde chegou mesmo a criar um ou dois borregos, tinha também uma pequena horta onde plantava umas couves, alfaces, tomates, feijão e outras coisas de que agora não me lembro.
O Alentejo e a margem sul sempre foram regiões de forte influencia dos partidos de esquerda onde o PCP e a ala mais radical dos sindicatos se moviam como peixe na água.
Ao ver séries de TV como o Conta-me Como Foi ou mais recentemente e ainda em exibição o E Depois do Adeus, trazem-me à memória palavras que se ouviam diariamente em casa e nas ruas tais como: "fascistas, retornados, proletariado, etc... Lembro-me de durante a minha infância ver lá por casa algumas revistas e jornais de propaganda como A Vida Soviética e o jornal Avante e de não conseguir dissociar o desporto da politica de forma a que quando assistia aos jogos olímpicos e mundiais ou europeus de futebol torcer invariavelmente pelos atletas da União Soviética e da Alemanha do leste.
Não condeno as pessoas mais radicais como a minha mãe, foram estas pessoas, portugueses típicos com pouca escolaridade, apenas com o quarto ano aqueles que o tinham, pouquíssimo acesso à informação e que viveram debaixo de uma repressão que nem consigo imaginar que criaram a minha geração com defeitos e virtudes, se a tudo isto se juntar o 25 de Abril que teve o condão de dar liberdade de expressão ao povo e o seu lado negro ao fazer uma fortíssima propaganda contra todos aqueles que não viviam na pobreza, facilmente se chega às causas para estes comportamentos.
Até aqui tudo bem não fosse esta mentalidade ter-se enraizado de tal forma que ainda hoje a minha mãe é viciada em debates políticos na TV e tudo o que tenha a ver com politica, até o meu pai se queixa e o pior são os comentários constantes durante o programa, sempre a favor e contra os mesmos, quando o assunto é economia ou outro que a Dona C não domine só consegue dar ou tirar razão depois de perceber de que lado da barricada se encontra o comentador ou analista, se está contra ou a favor do governo.
Recentemente o meu irmão ofereceu à dona C o livro do José Luís Peixoto, "Dentro do Segredo" que retrata a Coreia do Norte, não penssem que a minha mãe algum dia vai abrir o livro? Prefere viver na ignorância de não saber um pouco do que se passa num país que é apoiado pela China e que de comunismo já nada tem, vou ser eu a lê-lo e chatear-me com ela a relatar algumas passagens.
Não tem conta as vezes que já tentei fazer-lhe ver que não devemos decidir em função das cores e que para se ser nosso amigo não basta estar contra o nosso inimigo.
Sempre tenho votado em todas as eleições, obviamente que nas primeiras vezes que votei, fruto da minha imaturidade e ignorância, fazia-o achando que na esquerda é que era, com o tempo comecei a alargar horizontes, a aperceber-me que em Portugal a esquerda apenas serve para criticar tudo e todos e que assumir algum tipo de responsabilidade não é com eles, fazer coligações e ter uma pasta para mostrar serviço nem pensar, é muito mais fácil ficar de fora a mandar bitaites ainda que muitas vezes com razão, por outro lado e aqui estamos sempre de acordo, os restantes partidos mais não fazem que ceder a lobbis, contribuir para o corporativismo, olhar para o próprio umbigo.
Não é por isto que que deixei de votar e cumprir o dever cívico, até porque o voto em branco começa cada vez mais a ter significado devido ao peso que representa nas contas dos vários escrutínios eleitorais.
A minha mãe como qualquer cidadão tem todo o direito de pertencer ao partido politico que entender mas é uma pena que muita gente em Portugal ainda o faça por ideologia.
Os partidos políticos não são clubes de futebol sem grande peso no modo de vida das pessoas, posso dizer que mesmo no meu Benfica sempre fui critico nos tempos em que se pretendeu responder à letra a atitudes que nada tinham a ver com desporto, que começavam a roçar o fanatismo e a guerrilha entre regiões que ainda hoje dividem o país virando o norte contra Lisboa, cada um adota as estratégias que entender para alcançar os fins com mais ou menos dignidade e por último estará a história para julgar as estratégias e a dignidade das mesmas.

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